O marshmallow e a pandemia
- Daniela Barros
- 17 de jun. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 28 de jul. de 2020

No final da década de 1970 Walter Mischel e Ebbe Ebbesen, então pesquisadores da Universidade de Stanford (EUA), realizaram um teste simples com crianças que se tornou um clássico no controle da força de vontade e como podemos exercer o domínio sobre ela. Brevemente, o teste consistiu em deixar as crianças sozinhas, isoladas em uma sala, sem fatores de distrações como sons, quadros, cores. Elas recebiam um marshmallow e eram orientadas por pesquisadores que poderiam comer o marshmallow, porém se fossem capazes de esperar 15 minutos sem cair na tentação de comê-lo, seriam recompensadas com um segundo marshmallow. O comportamento das crianças foi observado através de salas de espelho.
Daí surge a questão, o que o experimento do Teste do Marshmallow tem a ver com a pandemia que estamos vivendo? Estamos diante de um cenário restritivo, em nome da nossa proteção e menor exposição à doença. Mesmo sabendo disso, muitas vezes somos tentados a tomar certas atitudes que podem aumentar a nossa vulnerabilidade sem ter necessidade. Será que somos capazes de esperar os “15 minutos sem comer o marshmallow “para postergar a recompensa e podermos usufruir melhor e com mais segurança o que estamos desejando?
Nem sempre é fácil. Vivemos buscando equilíbrio entre a mente racional que é fria, lógica, focada em tarefas e a mente emocional que é quente, dependente do humor e focada nas emoções. Não podemos esquecer do caminho do meio, da mente sábia, que valoriza a razão e a emoção, nos dá o senso de coerência. Por vezes nos encontramos tão imersos na mente racional ou na mente emocional que sufocamos a voz da sabedoria, que todos nós temos. Uma das formas de nos aproximarmos da mente sábia é através da prática de mindfulness (atenção plena). Através dessa prática focamos nossa atenção no momento presente. Utilizando a respiração como âncora, observamos e descrevemos os nossos sentimentos e emoções. Permitimos que os pensamentos surjam e passem, sem nos deixar arrastar por eles. Percebemos que pensamentos não são fatos. Assim, nos aproximamos de cada situação com um olhar curioso e nos distanciamos do automatismo, abrindo espaço para rever cada impulso e com tranquilidade ser capaz de treinar para postergar a recompensa.
Lembre-se, é um treino, quanto mais vezes repetir, melhor o desempenho!
Dicas para treinar a atenção plena:
- Observe suas sensações corporais que chegam através dos olhos, nariz, língua, ouvidos e a pele.
- Descreva suas emoções, nomeie seus pensamentos, rotule cada sentimento. Descreva o que eles produzem em você, sem julgá-los.
- Participe ativamente do que estiver fazendo. Comendo, tomando banho, estudando...
Para saber mais:
LINEHAN M. Treinamento de habilidades em DBT: manual de terapia comportamental dialética para o paciente. Ed Artmed, Porto Alegre, 2018.
MISCHEL W. O teste de marshmallow. Ed. Objetiva, Rio de Janeiro, 2016.
Dr.ª Daniela Martí Barros
Pesquisadora, professora e palestrante
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